Pentecostalismo “Assembleiano” brasileiro

Por Marina Aparecida oliveira dos Santos Correa [1]

O pentecostalismo brasileiro é um fenômeno que, para a maior parte das pessoas, permanece como um terreno sombreado no campo de conhecimento. A visibilidade que ele alcançou, nos últimos tempos, faz com que as pessoas em geral saibam do que se trata, mas, poucos o conhecem de fato. Segundo dados IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-, os evangélicos no Brasil, Censo (2010), cresceram 61% na primeira década do séc. XXI, chegando a 42.275.440 milhões de brasileiros ou 22,2% da população, sendo que 12.314.410 milhões de adeptos pertencem as igrejas Assembleias de Deus no Brasil, representando 6,46% da população brasileira (IBGE, 11/03/13).

Ao longo dos últimos anos, venho estudando o pentecostalismo dentro das Igrejas Pentecostais das Assembleias de Deus no Brasil contextualizando as alterações das características das igrejas das Assembleias de Deus (ADs) frutos de constantes inquietações sobre como a(s) igreja(s) se transforma(m) frente à renovação do ambiente com dinâmicas de cultos e discursos bem atuais dos pastores, modernos acompanhando a época atual. Sem dúvida, uma tarefa difícil, complexa, tanto do ponto de vista conceitual quanto do ponto de vista da observação. Durante esses anos, tentei identificar inúmeros pontos comuns e divergentes no que diz respeito a essa denominação (ou denominações, pois são várias dentro do mesmo espaço; são tão distantes e ao mesmo tempo tão parecidas, e isso elevou o grau de dificuldade para analisá-las). Apesar da fragmentação/ pulverização terem tornado o trabalho árduo, ao mesmo tempo fizeram dele um desafio a ser enfrentado, sempre oferecendo a possibilidade de deitar sobre mais estudos com olhares diferentes e inusitados.

Dessa constatação histórica e empírica, emergem as questões referentes à organização da igreja em suas diversas esferas, que incluem o poder local e o poder nacional, o poder carismático e o poder racional, o poder velado e o poder propriamente dito. As sedes dos Ministérios são de última geração, top de linha, megatemplos. As congregações dependentes, porém, são em sua maioria desprovidas de infraestrutura, e periféricas. As ADs são consideradas uma das organizações religiosas pentecostais mais ricas do Brasil, com um poder econômico centralizado nas mãos de poucos. A liderança dirigente é uma elite rica, em contraste com a membresia pobre. Na esfera nacional, sua riqueza concentra-se principalmente nas convenções nacionais, que têm como uma das principais fontes financeiras as editoras, cuja arrecadação assemelha-se a de grandes editoras não-religiosas; no âmbito regional, o poder econômico é distribuído, favorecendo os pastores-presidente responsáveis pelos ministérios e pelas convenções estaduais/ regionais, servindo de apoio às convenções nacionais. A gestão dos ministérios reproduz a administração regional, com centralização do poder e do dinheiro das igrejas.

Os líderes assembleianos atualmente possuem uma visão empreendedora e racional, no sentido de se dedicarem às atividades de organização, de administração e de execução de bons serviços, com foco de expansão em número de adeptos e na transformação de conhecimentos e de bens em produtos modernos (mercadorias, templos e serviços).

Ao analisar o modelo de funcionamento atual dos Ministérios ADs vinculados às convenções, e comparando-os ao modelo de franquia, não há como negar que existe uma semelhança entre eles (evidentemente trata-se de uma metáfora). Para quem não conhece o sistema de funcionamento das ADs, pode pensar que se trata da uma rede imensa de igrejas com uma administração centralizadas e não com funcionamento isolado, como demonstra a realidade.  Os Ministérios dessas igrejas, espalhados em todo território brasileiro e no exterior, com inúmeras cisões importantes em seu meio, destacando o crescimento e a autonomia de alguns ministérios que, após passar por cisões, funcionam com a mesma nomenclatura, “AD”. Só mesmo uma denominação racionalizada, moderna, para perceber que a superestrutura está no nome AD, que confere, ao mesmo tempo, poder, tradicionalidade, competitividade e força. Mesmo passando por várias cisões, podem se socorrer desse nome para se manterem inabaláveis externamente.

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2016-04-11 06.26.41

[1] Doutora em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP e Pós-doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Sergipe – SE – PNPD/CAPES/UFS. Membro do Grupo de Estudos Protestantismo e Pentecostalismo – GEPP – PUC-SP. Membro do RELEP – Rede Latino-Americano de Estudos Pentecostais. Membro do grupo de pesquisa OBSERVARE – Observatório Multidisciplinar de Religiões e Religiosidades, Universidade Federal de Sergipe.

 

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