Polifonia do Sagrado

2015-12-04 10.38.19

No mês de junho, foi publicada pela Editora UFS a coletânea “Polifonia do Sagrado: Pesquisas em Ciências da Religião no Brasil”, organizada por Péricles Andrade. “Esta obra é resultado de um esforço do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Federal de Sergipe em estabelecer uma rede de cooperação entre os pesquisadores brasileiros. Buscou-se, com a sua constituição, estabelecer maiores interações institucionais entre pesquisadores que compõem os programas de Ciências da Religião no Brasil. Espera-se que esta coletânea possibilite um amplo debate sobre as tonalidades a partir dos quais o sagrado tem sido investigado pelos participantes desta área do conhecimento no Brasil. Enfim, Polifonia do Sagrado visa contribuir para a superação dos obstáculos institucionalizados que se têm verificado na constituição desta área do conhecimento no campo científico brasileiro”.

 

SUMÁRIO

Apresentação – Péricles Andrade P. 13

1. Autonomia ou identificação orgânica entre a juventude católica e a instituição Igreja? Uma comparação entre estudos sobre as juventudes católicas no Brasil e na França – Marcelo Camurça P. 15

2. Categorias de acusação e campo religioso brasileiro: notas sobre manipulações da identidade e fronteiras móveis – Emerson Sena da Silveira P. 31

3. Aspectos do Desenvolvimento da Relação entre Religião e Espaço Público no Brasil: algumas anotações – Rodrigo Portella P. 49

4. Uma ciência como referência: uma conquista para o Ensino Religioso – Sérgio Rogério Azevedo Junqueira P. 59

5. O Culto as Iami Oxorongá na Região Metropolitana do Recife – Zuleica Dantas Pereira Campos e Andréia Caselli Gomes P. 73

6. Consumo, Prosperidade e Pertencimento Religioso – Drance Elias Da Silva P. 87

7. Manifestação de Identidade Cívica e Religiosa: o Primeiro Congresso Eucarístico Diocesano de Mossoró, Rio Grande do Norte (1946) – Newton Darwin de Andrade Cabral Cícero Williams da Silva P. 105

8. Protestantismo no Brasil: primórdios da inserção do Presbiterianismo em Sergipe – Alexandre de Jesus dos Prazeres e Gilmar Araújo Gomes P. 127

9. Aceitações Religiosas do Mundo e suas Direções: o caso da Religiosidade Criptojudaica – Marcos Silva e Isis Carolina Garcia Bispo P. 139

10. Reinvenção do sagrado: as práticas votivas populares e seus desdobramentos institucionais no nordeste do Brasil – Luís Américo Bonfim P. 153

11. Territorialidade Iurdiana em Aracaju-SE – Péricles Andrade e Célio Ricardo Silva Ribeiro Filho P. 167

12. A doutrina social da igreja e o espaço público no Brasil – José Rodorval Ramalho e Camilo Antônio Santa Bárbara Júnior P. 183

 

PREFÁCIO

DOS TONS, CORES E SABORES: à guisa de prefácio.

Esta coletânea que se inicia consistente e arrojada nasceu necessária e fundante, principalmente em dois campos: na tentativa de consolidação temática, teórica e metodológica de uma ciência, ainda relativamente jovem entre nós , e no incremento de diálogos entre pesquisadores e professores da rede nacional dos programas de pós graduação em Ciência(s) da(s) Religião(ões) no Brasil.

Péricles Andrade, organizador-pesquisador-escritor, nos brindou com maestria e extrema habilidade ao conseguir reunir quatro programas de três regiões: os programas da Universidade Federal de Sergipe, da Universidade Católica de Pernambuco, da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Certamente nos volumes seguintes contaremos com contribuições advindas do Norte e Centro Oeste Brasileiros. Quando registro esta capacidade aglutinadora de Péricles, não penso nos critérios de endogenia da Capes, porque muitas vezes aquilo que é publicado apenas no Sudeste não obedece a tal conceito  e é considerado paradigma nacional. Antes me refiro à urgência de se diagnosticar produções em nossa área fazendo confluir todas as sendas, a partir de todos horizontes nacionais, sem exclusões e/ou privilégios exacerbados.

O grau de maturidade de uma ciência somente pode ser medido pela sua própria capacidade de se auto avaliar. Neste ponto, mais um brinde ao nosso organizador. Neste volume é possível pensar o que fazemos e como fazemos. O que dizemos ser Ciência(s) da(s) Religião(ões) no Brasil, especialmente quanto ao nosso comportamento epistemológico; dito de outra maneira, se ainda somos departamentais ou se realmente praticamos interdisciplinaridade, multidisciplinaridade ou transdiciplinaridade,  na direção da consolidação de uma autonomia científica como um campo científico que aglutina vários sub campos  científicos, sem se perder no ecletismo maléfico que tanto assombra e danifica as ciências no Brasil, desde os primórdios de nossa fundação e diversidade científica; estas quase sempre perdidas em transladar os avanços alheios sem ousar pensar a partir de si. Aqui me refiro muito mais às ciências humanas, porque claro que está que somos muito mais reconhecidos mundo afora pelos exemplos oriundos das tecnologias e das saúdes, dados que podem ser facilmente verificados nos indicadores nacionais e internacionais.

Mais meu que de muitos com certeza, este assombro decorre de que ainda não acordamos para a incrível constatação de que o Brasil é consideravelmente o maior laboratório empírico do mundo para se estudar religiões. Sem dúvida somos continentais e temos a vantagem magnífica do idioma que facilita descolamentos do Norte ao Sul  e contamos sempre com ajuda de traduções dos idiomas não oficiais; sem dúvida somos híbridos e, como queiram, também, sincréticos. Temos lei nacional contra discriminação religiosa e, se registramos e combatemos intolerância religiosa, também é verdade que organizamos eventos religiosos magníficos sem registros de violências físicas e simbólicas.

Se os cientistas da Religião(ões) ainda imaginam poder pensar em apenas uma religião como foco privilegiado de  suas pesquisas e de compreensão dos fenômenos religiosos , talvez devessem inventar a tão sonhada máquina do tempo e procurar no devir histórico as supostas identidades rígidas das religiões e ter muito cuidado sobre tal, porque até Dario I, conhecido como O Grande, recomendava aos seus sátrapas o respeito às diferenças religiosas.

Dario I dominou o Império Aquemênida durante o século VI a.c e suas posturas podem ser observadas nas agonias de Pôncio Pilatos ao condenar Jesus, afinal lavou as mãos em um gesto   político brilhante exigido pelo poder/ ação administrativos, que impunha  deixar de lado querelas religiosas alheias aos interesses da manutenção dos  deuses romanos.  Pois então, quem sabe resta, também, sonhar com Tutacamom em sua malograda tentativa de instaurar o monoteísmo no Egito.

O Brasil do século XIX penso que deva ser investigado em suas  multiplicidades, tolerâncias, intolerâncias e, por enquanto, saudavelmente híbrido, porque, naturalmente, hibridismos não significam ausências de tensões.

O nosso campo de pesquisa é esmagadoramente constituído por historiadores, teólogos, sociólogos, filósofos, psicólogos, profissionais da educação, antropólogos e cientistas da(s) religião(ões). Com alegria, vemos os cientistas da(s) religião(ões) proliferando cada vez mais, o que nos sinaliza que , aliado ao campo fértil de pesquisas referido anteriormente e a este saudável aumento de especialistas em religião no Brasil, o panorama que se configura entre nós indica que seremos, dentro em breve, o maior celeiro de estudos de religião, com densidade em pesquisas e ensino, no mundo ocidental. Sejamos, pois, emancipados desde sempre, das cansativas reproduções intertextuais no campo da epistemologia, abordagens metodológicas e temáticas.

Do que foi dito, eis que a sucessão dos textos desta coletânea confirma nossos anseios. Marcelo Camurça, como sempre, nos abrilhanta com um olhar amplo e respaldado em dados consistentes. Ancorado na fenomenologia e com seu viés perspicaz de  sociólogo, antropólogo e historiador, nos remete à constatação de como fez falta nos currículos nacionais  das graduações em  História a tão necessária História das Religiões e História Comparada das religiões. Não que devêssemos ou devamos filiações prementes a M. Eliade e R. Otto, mas como nos faz falta a disciplina de História das Religiões no Brasil; por um tempo esquecida pelos clássicos fundadores dos cursos de História no Brasil, de opções positivistas/idealistas, e por mais tempo, repudiadas e perseguidas pelo hegemonia marxista. Camurça é genial em suas comparações sobre filiações (ou não) da juventude francesa e brasileira à hierarquia católica. Texto lúcido para o pensamento atual, principalmente sobre como refletir acerca dos caminhos conservadores que brotam como ervas daninhas por todo Brasil.

Emerson Sena Silveira nos provoca, de maneira singular, sobre o que são identidades religiosas no Brasil, a partir do conceito de acusação. O fez gigantescamente bem porque ousou na temática e no estilo que lembra Montaigne e os ensaístas ingleses do dezenove, sem esquecer a concepção de Prost sobre o tempo. Fez sobre o prisma corajoso de amalgamar ciência e memória pessoal. O fez bem, afinal trata do que imaginamos definir identidade não como se esta fosse uma categoria esdrúxula, mas constituinte do que nos levou e nos leva a estudar religiões. Certamente abriu caminhos sobre como perceber e estudar fenômenos religiosos e os analisar e narrar a partir de si para o mundo, sem se encerrar em si, como fazem ensaístas menores.

Rodrigo Portella, ao analisar a religião e o espaço público no Brasil, parte da constatação de que religião é um fenômeno intrínseco a nossa vida social e de que as tentativas republicanas de diferenciação/delimitação sobre espaços públicos sempre estiveram sob domínio oficioso dos católicos/cristãos e esta legitimidade está assentada na caridade. Tal paradigma também legitima as religiões não católicas/cristãs. Um texto elegante com excelentes diálogos teóricos sobre o tema com especialistas brasileiros, sobretudo pelas indagações sobre a “porosidade de fronteiras” entre religião e atividades de assistência pública. Bastante lúcida as ponderações acerca do que mobiliza o fiel para atuação social; antes a fé, as crenças, o “sentir-se tocado”, do que propriamente a racionalidade política.

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira nos elucida, como sempre, sobre o ensino religioso no Brasil. Nos embasa sobre leis, diretrizes e bases curriculares. Não existiríamos enquanto ciência sem aplicabilidade se não houvesse a formação de docentes para o ensino religioso no Brasil, seja esta entendida hoje como ensino religioso ou como educação religiosa. O capítulo de Sérgio nos orienta e pondera com muita propriedade sobre nossos caminhos políticos atuais e futuros.

Zuleica Dantas Pereira Campos pensa sempre através de horizontes múltiplos; vemos emergir uma historiadora, antropóloga e cientista das religiões, daí seu texto sai de Pernambuco e perpassa as interpretações sobre religiões africanas no Brasil para nos de dizer que não há dualidades entre nós e a África. Um capítulo primoroso, ainda mais, quando somado às ricas contribuições de Andréia Caseli Gomes.

Drance Elias da Silva investiga no Brasil as formas de pentecostalismo, também nomeadas de neopentecostais, a partir da década de 1970. O faz embasado em dados empíricos extraídos da Igreja Católica e da IURD e através de uma brilhante e densa reflexão teórica, onde o tema é tecido integrando perspectivas clássicas com as mais recentes ilações entre a Sociologia da Religião/ análise de discurso. Nosso autor aqui aponta para uma “hermenêutica” discursiva centrada no dinheiro e no consumo, ambos associados à prosperidade como condição precípua de pertencimento/identidade do fiel. Desta forma, a religião no capitalismo deixa de ser apenas compreendida como uma alienação ou falseamento da realidade para tornar o capitalismo, em si, uma religião singular.

Newton Darwin de Andrade Cabral e Cícero Williams da Silva explicam o Primeiro Congresso Eucarístico Diocesano de Mossoró que ocorreu em 1946, sob o prisma da compreensão de uma confluência entre identidade religiosa e cívica. Uma magnífica elaboração histórica construída a partir da revisão historiográfica de boa base documental. Este capítulo é fundamental aos estudos sobre congressos eucarísticos no mundo e no Brasil, porque os autores tiveram o cuidado de nos desvendar seus sentidos e naturezas. Ao identificar identidade dualista, Newton e Cícero teceram uma trama histórica muito especial e rica, porque nos narram os massacres de católicos ocorridos no Rio Grande do Norte, durante as invasões holandesas e o processo de beatificação de trinta católicos, entre mais de centena, como protomártires, em 2000.

Alexandre de Jesus dos Prazeres e Gilmar Araújo Gomes, na mesma direção do capítulo anterior, nos presenteiam com um texto de extrema importância sobre os primórdios da chegada dos presbiterianos em Sergipe. Também respaldados na Historiografia e em bons documentos, eles traçam as estratégias de inserção dos presbiterianos como parte de um conjunto de estratégias usadas no Brasil inteiro, sendo bastante salutar, especialmente para nossa compreensão cultural de como as minorias religiosas enfrentam resistências e constroem suas identidades.

Marcos Silva e Isis Carolina Garcia Bispo constroem um capítulo polêmico e instigante sobre como as religiosidades oprimidas e subalternas não podem ser reduzidas às categorias de análise das teorias clássicas. Desta premissa decorre a discussão teórica sobre o que estes autores compreendem como sendo “rejeições religiosas do mundo” em Weber, em oposição à compreensão das “aceitações religiosas do mundo em suas práticas rituais”. Para elaboração deste último paradigma, Marcos e Isis refletem historicamente sobre a religiosidade criptojudaíca incluindo suas esferas eróticas e intelectuais, não apenas absorvendo saberes historiográficos, mas também esmiuçando documentos fundamentais à compreensão das religiosidades na Península Ibérica.

Luís Américo Bonfim, para entender práticas votivas populares no Nordeste do Brasil a partir de trabalhos etnológicos bastante primorosos, cria categorias taxonômicas de tipos e perfis devocionais de cultos canônicos e não canônicos, onde percebemos um rico esforço que nos ajuda na decodificação do que ele nomeia como sendo tipos canônicos, transcanônicos, protocanônicos e não canônicos. Um capítulo denso e necessário porque não se perde em deleites teóricos; ao contrário, nos indica caminhos de como podemos aglutinar aquilo que pode ser comum em nossas religiosidades como trocas e barganhas materiais e simbólicas.

Péricles Andrade e Célio Ricardo Silva Ribeiro Filho analisam questões vinculadas à territorialidade Iurdiana em Aracaju e criam cenários deslumbrantes, a partir da intersecção de dados dos censos nacionais e locais. Conseguem esboçar conclusões densas extraídas das variáveis de renda e escolaridade. O que salta aos olhos é que estes autores conseguem nos elucidar sobre “ética religiosa diferenciada” e, com muita propriedade e segurança, compreendem as estratégias de inclusão da IURD; aqui existem significativas ponderações distintas do pensamento dominante no Brasil sobre este tema, porque territorialidade é percebida, também, como transitoriedade e mobilidade.

Para a compreensão no Brasil atual do que ordinariamente se designa como Doutrina Social da Igreja, o capítulo que encerra a coletânea com muito primor, de José Rodorval Ramalho e Camilo Antônio Santa Bárbara Júnior, é mais que oportuno. Partindo de uma investigação histórica conceitual sobre solidariedade, bem comum e subsidiariedade presentes nos discursos da Igreja desde os primórdios da Doutrina Social, Rodorval e Camilo denunciam o distanciamento/ausência destes fundamentos no atrelamento da Igreja Católica no Brasil ao Governo Federal da atualidade brasileira. Impactantes e necessários, os resultados que nos conduzem a duras considerações políticas sobre o papel da religião nos desmantelos do uso das engrenagens públicas para manipulação social dos menos favorecidos.

Péricles Andrade está de parabéns, todos nossos autores estão de parabéns!!! Registro minha alegria e honra pela confiança depositada. Péricles dissertou sobre tons, assim registro que esta coletânea tem muitas cores e muitas sabores. Sua leitura atenciosa descortina horizontes nos presenteando com as infindáveis luzes de um arco íris e nos faz saborear as muito boas narrativas.

Professora Dra. Sylvana Maria Brandão de Aguiar

 

DADOS

Editora: Editora UFS. São Cristóvão-SE

Número do código de barras: 9788578225049

ISBN: 978-85-7822-504-9

Acabamento: Brochura

Altura: 23,2cm

Largura: 15,2cm

Profundidade: 1,4cm

Número da edição: 1

Ano da edição: 2015

Idioma: Português

País de origem: Brasil

Número de páginas: 196

Peso: 0,40kg

Organizador: ANDRADE, Péricles

 

VENDAS

Loja da Editora UFS (Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe) ou por reembolso postal. Valor: R$ 30,00 (trinta reais) + frete. Pedidos pelo email: observare@ufs.br.

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